quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Diário de um Engenheiro: doenças neurodegenerativas - doença de Parkinson

A doença de Parkinson, ou mal de Parkinson, atinge geralmente os idosos acima de 60 anos. Entretanto, a doença também acomete pessoas com idade inferior e em raros casos, antes dos 40 anos. Caracteriza-se principalmente por uma desordem motora progressiva, devido à degeneração e morte celular dos neurônios secretores de dopamina na substancia negra (componente do sistema motor), que controla/ajusta a transmissão dos comandos dos movimentos (vindos do cérebro e indo para os órgãos efetores, como músculos), sendo uma doença degenerativa do sistema nervoso central.  
Com o nível de dopamina reduzido, essa condução dos sinais fica prejudicada, comprometendo principalmente a parte motora, além de prejudicar outras funções que necessitam da dopamina.

É uma doença primária, idiopática, ou seja, sem causa óbvia da morte dos neurônios. Foi descrita pela primeira vez pelo médico inglês James Parkinson em 1817 (“Um ensaio sobre a Paralisia Agitante”), que posteriormente viria a ser homenageado com o seu nome “Parkinson”.

As principais manifestações clínicas são o tremor de repouso, rigidez muscular, bradicinésia/acinésia (lentidão/muita dificuldade do movimento voluntário) e instabilidade postural (prejudica equilíbrio e coordenação), podendo ser acompanhadas por outros sintomas não motoras, como diminuição da memória, distúrbios do sistema nervoso autônomo, alterações psíquicas, por exemplo. O quadro costuma ter um início lento e gradual, podendo ser limitado a uma metade do corpo e ao passar do tempo se manifestar em ambos os lados (geralmente de forma assimétrica dos sintomas nos 2 lados).

A doença de Parkinson e parkinsonismo não são sinônimos, pois este designa várias doenças com causas diferentes, mas que possuem em comum os sintomas parkinsonianos, já citados acima, sendo necessário a presença de pelo menos 2 deles. A doença de Parkinson é a forma mais frequente de parkinsonismo.

O diagnóstico da doença de Parkinson baseia se nas manifestações clínicas, o que pode levar a diagnósticos errados, visto que existem outras doenças com sintomas parecidas (parkinsonismo), e atrasar o tratamento. O auxílio no diagnóstico mais importante é a resposta à levodopa (precursora da dopamina), pois para quem está com a doença de Parkinson, essa resposta é quase sempre satisfatória.

Tratamento
É importante ressaltar que, apesar da busca de terapias capazes de retardar ou parar a degeneração de neurônios dopaminérgicos, ainda não há um tratamento definitivo. Os procedimentos apresentados a seguir não afetam o progresso da doença, mas visam à melhora nos sintomas.
O tratamento pode ser dividido em: farmacológicos; não farmacológicos; procedimento cirúrgico.

◆  Os fármacos visam principalmente o aumento do nível de dopamina.
Levodopa – aumenta o nível de dopamina, pois é um precursor da dopamina.
Mais comumente utilizada em associação com inibidores de dopa-descarboxilase periférica, para diminuir a dose administrada de levodopa. Ao longo prazo, a levodopa provoca a flutuação motora (encurtamento do efeito e/ou mudanças bruscas no estado de mobilidade) e discinesia (movimentos involuntários).
Anticolinérgicos – diminui o nível de acetilcolina cerebral em busca do equilíbrio com a dopamina (baixo nível).  Mais eficaz para tremor e rigidez, tendo atuação desprezível sobre acinesia. Uso limitado devido aos efeitos colaterais (alucinação, sonolência, confusão mental, turvação visual entre outros).
Agonista dopaminérgicos – atuam estimulando a secreção de dopamina nos receptores dos neurônios secretores de dopamina. Menos potente que a levodopa, mas mais potente que os outros. Administração em dose baixa para não desenvolver intolerância.
Inibidor da catecol-o-metil transferase (uso associado à levodopa):
Selegina – inibe irreversivelmente a enzima monoaminoxidase B, que degrada a dopamina. Outro mecanismo plausível seria a metabolização em derivados que podem ter atividade antiparkinsoniana (neuroprotetor). Geralmente para sintomas mais leves.
Amantadina – é um agente antiviral com ação ainda não totalmente esclarecida, mas há evidências de aumentar a liberação da dopamina. Possivelmente ação bloqueadora de receptores N-metil-D-aspartado, que na teoria facilita a transmissão de dopamina no estriado.

◆  A terapia não farmacológica pode minimizar alguns sintomas e/ou complicações.
A fisioterapia e terapia ocupacional são interessantes especialmente para os pacientes com instabilidade para andar e postural, pois trabalha para melhoria da força muscular, coordenação e equilíbrio.
Como a diminuição do volume da voz e a disartria (má coordenação dos músculos da fala) são frequentes, a fonoterapia também pode ser uma terapia que ajuda a minimizar desconfortos.
As alterações psíquicas acompanhadas, seja pelas mudanças neuroquímicas (redução dopamina), ação dos medicamentos ou mesmo a dificuldade decorrente do transtorno motor, podem levar à depressão ou algum transtorno psíquico. Assim, o tratamento psicológico também tem um papel importante para que o paciente e também seus familiares não deixem de ter qualidade de vida.
A dificuldade de executar movimentos além da dificuldade de deglutição junto com a motricidade gástrica afetada, muitas vezes, leva à desnutrição e perda de peso. Assim a alimentação também deve ser levada em consideração, para deixar em bom estado nutricional, sem esquecer da interação que pode ocorrer com o fármaco administrado no tratamento.

  Procedimento cirúrgico
É observado um interesse maior no tratamento cirúrgico numa fase avançada, quando ocorrem complicações motoras graves e que as alternativas farmacológicas não teve sucesso.  
Técnicas lesionais – destruição de uma parte da área cerebral, eliminando as células “anormais” e aliviando sintomas. No entanto, é relatado uma ”perda” do efeito após certo tempo da cirurgia. Talvez possa ser afirmado que o ato cirúrgico evita uma progressão mais rápida da doença, um suposto efeito neuroprotetor. Dependendo do perfil clinico do paciente, há variação na dose de levodopa administrada após a cirurgia.
Talamotomia: mais indicado para caso com predomínio de tremor e intolerância a medicamentos disponíveis. Complicações incluem apraxia do membro superior, disartria, disfagia, abulia 73, distúrbio da fala/da linguagem.
Palidotomia: escolha no tratamento de discinesias induzidas por levodopa. Complicações incluem disfunção cognitiva, disfagia, hemiparesia transitória, hemorragia subcortical entre outros.
Um estudo teve como objetivo avaliar o impacto da cirurgia estereotáxica  sobre a realização das atividades do cotidiano dos pacientes com doença de Parkinson, como a independência em realizar atividades essenciais, diretamente ligada à qualidade de vida, pois tem sido dada pouca ênfase. Observou-se melhora no grau de independência, especialmente, após 3 a 6 meses da operação, provavelmente devido ao período de adaptação e recuperação (logo após o ato cirúrgico). Lembrando que a cirurgia alivia o tremor e rigidez, principalmente, o que facilita a realização de atividades, mas ainda pode manter outros sintomas. E conforme a literatura, após certo período ocorreu a “perda” do efeito.
Alternativa do tratamento lesivo
Estimulação elétrica dos núcleos da base:
Introduz um eletrodo no cérebro e há grande semelhança nos efeitos obtidos com a “lesão cirúrgica”, pois permite o aumento da dose de levodopa e depois da dopamina (devido ao estimulo elétrico das células) promovendo melhora dos sintomas. Há a vantagem da possível suspensão do tratamento farmacológico e a desvantagem do custo, risco de infecção e falha no equipamento. O eletrodo é sustentado por bateria que dura de 3 a 5 anos.
Estimulação elétrica da coluna dorsal da medula:
Um estudo em 2009 propôs que essa estimulação restaurou a locomoção. Foi estimulada eletricamente a coluna dorsal da medula de camundongos com nível de dopamina extremamente baixo, o que levou ao aumento significativo da mobilidade e a diminuição da dose administrada de levodopa em 1/5 da dose usual. Em 2010 foi realizado o implante cirúrgico de estimuladores elétricos em 2 pacientes com a doença de Parkinson, mas os resultados não mostraram eficiência significativa como observado nos camundongos.
Acupuntura: estimulação neural
Há estudos que mostram que a acupuntura realizada (nos ratos) em pontos que previne a morte de neurônios restaura os níveis de dopamina e seu metabolismo. A estimulação elétrica associada à acupuntura, eletroacupuntura, também tem sido estudada junto com a acupuntura, levando em consideração o local dos pontos e a profundidade de inserir a agulha, por exemplo, para promover a diminuição dos sintomas.
Um estudo no Paraná propôs a utilização de recursos para estimular a medula, sem a necessidade do implante de eletrodos, ou seja, de custo e risco menor e com maior acessibilidade. Foram analisadas a acupuntura, eletroacupuntura e estimulação nervosa elétrica transcutânea em pontos variados para terapia dos sintomas de hipocinesia e bradicinesia.  Os resultados mostraram que a utilização desses métodos em determinados pontos apresentou efeito significativo no aumento da mobilidade dos membros superiores dos pacientes, o que indica a importância do local da estimulação neural no local de ação.
Implante de células dopaminérgicas da substancia negra fetal no estriado
Com o objetivo de recuperar inervações perdidas e aumentar o nível de dopamina, introduz um grupo de células (células tronco, que são indiferenciadas, capazes de multiplicar e diferenciar em vários tecidos, dependendo do estímulo recebido e sua origem). Em especial, as células tronco embrionárias que podem dar origem a todos os tecidos, seguida pelas de tecido adultos e do cordão umbilical.
Existem estudos mostrando essa eficácia na regeneração de neurônios e consequente melhora nos sintomas para pessoas com menos de 60 anos, não sendo observado melhora em pacientes com idade mais avançada. Foi observado também que pode ocorrer, em pequena parte, problemas apresentados pela administração da levodopa, como a discenesias e perda de eficácia ao longo do tempo.


Tamires Lie Yamamoto


Referencias bibliográficas:
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Disponivel em: <http://www.doencadeparkinson.com.br/resumodp.htm>. Acesso em: 12 Maio 2013.

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