sexta-feira, 4 de julho de 2014

Entrevista: Professor Bruno Henrique Oliveira

     Bruno Henrique Oliveira, graduado na UNESP de Assis, ministra atualmente as aulas de Bioquímica e Biotecnologia de alimentos aos alunos de Engenharia Biotecnológica. Conheça um pouco mais sobre sua carreira profissional, opinião sobre o curso e sobre a Biotec Junior!


      Descomplicando: Qual a sua formação?

Bruno: Sou formado na UNESP de Assis e uma parte do mestrado na UNESP de Rio Claro, em microbiologia aplicada e bioquímica. Fiz outra parte do mestrado em Biotechnology, em Thunder Bay, Canadá, na universidade de Lakehead. Foi um mestrado complementar ao que eu fazia aqui no Brasil. O intercâmbio foi por conta própria, apenas com bolsa de pesquisa que fazia parte do mestrado no Brasil. Fiquei um pouco mais de um semestre, trabalhando nos experimentos e desenvolvendo  outros novos diferentes daqueles que eu já estava trabalhando no Brasil. Participei de um grupo de pesquisa, não fiquei focado apenas na minha linha de trabalho, conheci todas as linhas de pesquisa do laboratório, o que contribuiu bastante para minha formação como mestre. Descobri diferentes formas de trabalho, não só na parte de infraestrutura, mas também na parte de biodiversidade característica do país e material biológico. Valeu muito a pena.

      D: Porque você escolheu o curso de Ciências Biológicas?

B: Gostava muito da área ambiental, controle biológico e reflorestamento, na parte de recriar áreas que foram degradadas, mas na faculdade eu mudei o foco. Descobri durante o curso que eu gostava de outras áreas além da parte ecológica, partindo para  a parte industrial, bioquímica e microbiológica. E então resolvi fazer meu mestrado e pós-graduação naquilo que eu descobri ter aptidão.

       D: Qual a sua linha de pesquisa na faculdade?

B: Trabalho com enzimologia aplicada às lipases, área em que temos diversas aplicações. No mestrado trabalhei mais com a parte de síntese, sintetizando ésteres específicos para uma finalidade industrial; e agora no doutorado, estou focando um pouco mais a parte de bioquímica humana, como utilizar enzimas com intuito terapêutico, na área de saúde. Dentro da área da enzimologia, existe uma grande quantidade de setores em que podemos trabalhar.

      D: Como você começou a dar aulas?

B: Na universidade não é a primeira experiência este ano.  Desde a graduação começamos a dar aula no ensino fundamental, ensino médio, regular e cursinho. Após me formar no mestrado, comecei a atuar no ensino superior, já que para isso é exigido que se tenha uma formação um pouco mais avançada. Já dei aula aqui na UNESP de Assis, como professor substituto em química analítica e em análise de alimentos. Atualmente com a professora Valeria entrou em licença-maternidade, eu peguei as aulas do primeiro semestre de Bioquímica e Biotecnologia de Alimentos. Tenho pouco mais de um ano de experiência com ensino superior e de 3 a 4 anos ensino fora da faculdade.

      D: Por que você resolveu voltar para Assis depois?

B: É complicado. Voltei para Assis para terminar o que eu tinha começado, tinha um compromisso com a universidade. Apesar de o meu mestrado ser pela UNESP de Rio claro, minha orientadora é a professora Valeria que é titular da UNESP de Assis, então mantenho sempre contato com Rio claro e Assis. Voltei para terminar o mestrado, tive a oportunidade de voltar pra o Canadá, escolhi Assis por diversos motivos tanto pessoais como profissionais. Também, durante o mestrado eu isolei um microrganismo novo que me dava a possibilidade de um trabalho com um poder cientifico muito grande e muito inovador, coisa que eu não teria fora do país. Esse microrganismo é meu e indo pra o Canadá eu trabalharia com coisas que não seriam minhas, desenvolveria um conhecimento que não seria meu. A infraestrutura não é tão boa quanto lá, embora estejamos na UNESP. Quando falamos de América do norte, a infraestrutura é muito interessante, mas com o que temos aqui, nós conseguimos desenvolver um trabalho de qualidade bastante elevada.

      D: Você conhece o trabalho que a Biotec Júnior faz?

B: Não sou ligado totalmente, mas como estou aqui há muito tempo, eu estive presente desde a criação da Biotec Júnior; e embora eu seja de Biologia, nós acabamos ajudando um pouco no processo de criação da empresa. O que a Biotec Júnior desenvolveu com o tempo nós professores vemos muito mais os sucessos, os projetos desenvolvidos, as parcerias criadas; não enxergamos muito os tropeços que vocês têm, ainda que saibamos que eles existam e que é natural que os tenha mesmo.

      D: Você acha que participar de uma Empresa Júnior pode agregar experiências para o futuro profissional?

B: Sem dúvida nenhuma. Agora, vocês têm alguns tropeços que vão ajudá-los a crescerem, o que não é permitido quando se está diretamente numa empresa. Esses pequenos erros e os conhecimentos que estão adquirindo vão ser de grande valia quando estiverem inseridos no mercado de trabalho. Saber como se portar, entender como funciona uma empresa, avaliar e conseguir prever alguns possíveis erros, tudo isso te favorece profissionalmente e te da uma experiência que vai te colocar na frente de outros.

      D: Qual sua opinião sobre o curso de Biotecnologia?

B: Até brinco que eu sou hoje mais um biotecnólogo do que um biólogo, por conta da área que escolhi de aplicação. Quando o curso de Biotecnologia foi criado, não tinha prédio, não tinha sala, laboratório, nada. Hoje quando olhamos o campus na parte biológica, ele é totalmente da Engenharia Biotecnologia, com a biologia em segundo plano. Quando criado, o curso chamava-se Biotecnologia e com o tempo cresceu, se desenvolveu, ampliou-se e como ganhou qualidade, chegando a se tornar uma engenharia. Atualmente o curso esta formando profissionais com imenso potencial, mas falta ainda um ramo especifico de atuação. O mercado ainda não os vê com todo potencial que eles têm. O profissional pode trabalhar criando e desenvolvendo todo potencial tecnológico do país. Se olharmos aqui para o campus podemos notar o que está saindo dos laboratórios, como a criação de produtos novos e conhecimentos. Os profissionais que saem daqui estão indo para o exterior, por meio de bolsas ou não, para trabalhar fora. O potencial é muito grande.

      D: Você acha que esse problema com o profissional engenheiro biotecnológico é um problema do Brasil?


B: Acho que isso é um problema de todo pais em desenvolvimento. Quando se olha um país desenvolvido e ele já tem uma área especifica para o profissional, eles já sabem o que querem a partir dele. Os países em desenvolvimento estão caminhando em direção a isso, mas ainda perdem um pouco quanto ao refinamento deste conhecimento. O profissional está sendo bem formado, mas sem área de atuação especifica. O Brasil tem alguns institutos no estado de São Paulo, por exemplo, o Butantã que procura biólogos e engenheiros biotecnológicos para desenvolver vacinas ou produtos genômicos. Mas ainda é pouca a procura pelo profissional. Pelo curso ser novo no país, a iniciativa privada tem um pouco de medo em arriscar nesses profissionais e a parte governamental cresce de vagar em relação a isto. O Brasil esta criando centros e se desenvolvendo, ainda que aos poucos.

D: Isso é tudo professor. Muito obrigado por ceder um pouco do seu tempo para nós e nos dar uma excelente entrevista!

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