quinta-feira, 17 de abril de 2014

Diário de um Engenheiro: a utilização de sibutramina como tratamento para obesidade

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, de prevalência crescente, e atualmente representa um dos maiores desafios de saúde pública em todo o mundo. Esta doença induz anormalidades metabólicas que influenciam no desenvolvimento de diabetes mellitus e doenças cardiovasculares, associadas a um alto risco de morbidade e mortalidade. Muitas vezes, dieta, alterações do comportamento e a realização de exercícios regularmente são insuficientes para a perda de peso consciente ou para a manutenção do peso perdido. Portanto, muitas vezes, é necessário um tratamento farmacológico em conjunto com os outros fatores já citados.

Entre os vários tratamentos farmacológicos para o controle da obesidade, existe o tratamento com a sibutramina. Este fármaco e seus metabólitos têm ação sobre o sistema nervoso central, atuando como inibidor da recaptação de noradrenalina e serotonina, e é classificado terapeuticamente como anorexígeno. É indicada em pacientes com IMC (índice de massa corpórea) maior ou igual a 30 kg/m2, ou maior ou igual a 27 kg/m2 associado a algum fator de risco como hipertensão. No mercado brasileiro este fármaco encontra-se disponível com nomes comerciais como Reductil ® (Abbott), Plenty ® (Medley), Cloridrato de sibutramina monoidratado (Medley), além de outros produtos que estão em lançamento e os formulados pelas farmácias magistrais. As principais apresentações farmacêuticas disponíveis no comércio são cápsulas de 10 e 15 mg, de preparação industrial, e cápsulas obtidas por manipulação.

A sibutramina exerce suas ações farmacológicas predominantemente através de seus metabólitos amino secundário (M1) e primário (M2), que são inibidores da recaptação de noradrenalina, serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HT) e dopamina. O composto de origem, a sibutramina, é um potente inibidor da recaptação de serotonina. Amostras plasmáticas obtidas de voluntários tratados com sibutramina causaram inibição significativa tanto da recaptação de noradrenalina (73%) quanto da recaptação de serotonina (54%), mas sem inibição significativa da recaptação da dopamina (16%).

A sibutramina e seus metabólitos (M1 e M2) não são agentes liberadores de monoaminas. Eles não apresentam afinidade para um grande número de receptores de neurotransmissores. Em modelos experimentais em animais utilizando ratos magros em crescimento e obesos, a sibutramina produziu uma redução no ganho de peso corporal. Acredita-se que isto tenha resultado de um impacto sobre a ingestão de alimentos, isto é, do aumento da saciedade, mas a termogênese aumentada também contribuiu para a perda de peso. Demonstrou-se que estes efeitos foram mediados pela inibição da recaptação de serotonina e noradrenalina.

A sibutramina é bem absorvida e sofre extenso metabolismo de primeira passagem. Os níveis plasmáticos máximos (Cmax) foram obtidos 1,2 horas após uma única dose oral de 20 mg de cloridrato de sibutramina monoidratado, e a meia-vida do composto principal é de 1,1 horas. Os metabólitos farmacologicamente ativos M1 e M2 atingem Cmax em 3 horas, com meia-vida de eliminação de 14 e 16 horas, respectivamente.

A farmacocinética da sibutramina e seus metabólitos em indivíduos obesos é semelhante àquela observada em indivíduos de peso normal. O índice de ligação às proteínas plasmáticas da sibutramina e seus metabólitos M1 e M2 é de 97%, 94% e 94%, respectivamente. O metabolismo hepático é a principal via de eliminação da sibutramina e de seus metabólitos ativos M1 e M2.

Os efeitos colaterais mais comuns associados à sibutramina são boca seca, dor de cabeça, constipação, e insônia. A sibutramina também pode aumentar levemente a pressão sanguínea de alguns pacientes. Desta forma, é recomendado que pessoas tomando sibutramina tenham a pressão sanguínea monitorada. Este fármaco é contraindicado para aqueles que apresentam pressão alta sem controle, histórico de AVC, doença cardíaca ou arritmia cardíaca.

Letícia Rustici Chica


Referências
CORREA, Lívia L. et al . Avaliação do efeito da sibutramina sobre a saciedade por escala visual analógica em adolescentes obesos. Arq Bras Endocrinol Metab,  São Paulo,  v. 49,  n. 2, abr.  2005 .  
MANCINI, Marcio C.; HALPERN, Alfredo. Tratamento Farmacológico da Obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab,  São Paulo,  v. 46,  n. 5, out.  2002 .
DIEFENBACH, Isabel C. et al. Desenvolvimento e Validação de Metodologia Analítica
para o Doseamento de Sibutramina em Cápsulas. Latin American Journal of Pharmacy, 27 (4): 612-7 (2008), May 15, 2008.

HALPERN, Alfredo et al . Experiência clínica com o uso conjunto de sibutramina e orlistat em pacientes obesos. Arq Bras Endocrinol Metab,  São Paulo,  v. 44,  n. 1, fev.  2000 . 

Autoria desconhecida. Disponível em: http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM%5B25274-1-0%5D.PDF.  Acesso em:  14 jun. 2013

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