terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Diário de um Engenheiro: como funcionam as terapias para Hepatite C e quais os novos medicamentos


A hepatite C é uma doença infecciosa causada pelo vírus da hepatite C (VHC) e que afeta, sobretudo, o fígado. Na maioria das vezes é assintomática, atinge o nível crônico e apresenta um risco aumentado de desenvolver cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC).

A progressão da doença depende mais de fatores do hospedeiro, como, por exemplo, a duração da infecção, a idade mais avançada e o consumo excessivo de álcool, e não tanto do genótipo ou do nível sérico do RNA do vírus da hepatite C (VHC).

O tratamento atual padrão para a hepatite C crônica inclui o interferon em associação com a ribavirina, durante um período de tempo que varia de acordo com o genótipo e a cinética do vírus. Na globalidade, a eficácia da terapia com a combinação interferon α e ribavirina ronda os 50%, o que significa que cerca de metade dos doentes não responde ao tratamento atual, tornando a repetição do tratamento a única alternativa para estes doentes, não obstante a sua escassa probabilidade de sucesso. A procura incessante de uma resposta virológica mantida (RVM) justifica-se plenamente pelo fato de se reconhecer que a erradicação do vírus está associada à cura da infecção, o que nos doentes com cirrose implica uma redução drástica da incidência de CHC e da mortalidade.

Com a recente aprovação dos primeiros DAAs, os inibidores da protease boceprevir e telaprevir, que já estão sendo distribuídos pelo SUS, um maior número de doentes tem a oportunidade de conseguir a cura da hepatite C. Os ensaios da fase II em doentes, usando o telaprevir em combinação com o interferon alfa 2α e a ribavirina, mostraram um acréscimo de 20%-26% na RVM nos regimes com telaprevir, comparativamente ao tratamento padrão 3,4. Estes estudos demonstraram, também, que o regime de 12 semanas de telaprevir em associação com 24 semanas de interferon mais ribavirina era o melhor compromisso entre a eficácia e a segurança e, por outro lado, realçaram a importância da ribavirina na prevenção da recidiva.

Nos doentes não respondedores, a terapêutica tripla com telaprevir, seguindo o mesmo esquema de 12 semanas, com 36 semanas adicionais de terapêutica standard, mostrou taxas de RVM de 83% nos recidivantes, 59% nos respondedores parciais e 29% nos respondedores nulos5. Com o boceprevir, incluindo a fase de lead-in e uma terapêutica tripla durante 32 semanas mais 12 semanas adicionais de terapêutica standard, a taxa de RVM foi de 75% nos recidivantes e de 52% nos não respondedores (neste ensaio não foram incluídos respondedores nulos).

A terapêutica antivírica da hepatite C tem evoluído desde os anos oitenta por acréscimos de eficácia pautados pelo fator 20: 20% de cura nos estudos iniciais com a monoterapia com o interferon convencional; 20% de aumento com a junção da ribavirina; 20% com a introdução do interferon e, finalmente, mais 20% com a terapêutica tripla associando um inibidor da protease.

Não obstante este extraordinário progresso, ainda existem fronteiras por conquistar: a cura para cerca de um quarto dos doentes com genótipo 1 que não responde à terapêutica tripla, a cura para os 20% de doentes com os genótipos 2 ou 3 que não respondem ao tratamento padrão e que não beneficiam da adição dos inibidores da protease e ainda confirmar se os atuais inibidores da protease são ativos no genótipo 47,8.

                                                                                                                    Nicola Sato

 

Referencias Bibliográficas:
1. Swain MG, Lai MY, Shiffman ML et al. A sustained virologic response is durable in patients with chronic hepatitis C treated with peginterferon alfa-2a and ribavirin. Gastroenterology 2010;139:1593-1601. 
2. Velosa J, Serejo F, Marinho R, et al. Eradication of hepatitis C virus reduces the risk of hepatocellular carcinoma in patients with compensated cirrhosis. Dig Dis Sci 2011;56:1853-1861.       
3. McHutchinson JG, Everson GT, Gordon SC, et al. Telaprevir with peginterferon and ribavirin for HCV genotype 1 infection. N Engl J Med 2009;360:1827-1838.
4. Hézode C, Forestier N, Dusheiko G, et al. Telaprevir and peginterferon with or without ribavirin for chronic HCV infection. N Engl J Med 2009;360:1839-1850.       
5. Zeuzem S, Andreone P, Pol S, et al. Telaprevir for retreatment of HCV infection. N Engl J Med 2011;364:2417-2428. 
6. Jacobson IM, McHutchinson JG, Dusheiko GM, et al. Telaprevir for previously untreated chronic hepatitis C virus infection. N Engl J Med 2011;364:2405-2416.  
7. Foster GR, Hézode C, Bronowicki JP, et al. Activity of telaprevir alone or in combination with peginterferon alfa-2a and ribavirin in treatment-naïve genotype 2 and 3 hepatitis-C patients: final results of study C209. J Hepatol 2010;52:S27.        
8. Benhamou Y, Moussalli J, Ratziu V, et al. Activity of telaprevir monotherapy or in combination with peginterferon alfa-2a and ribavirin in treatment-naïve genotype 4 hepatitis-C patients: final results of study C210. Hepatology 2010;52:S719.    
9. Velosa, J. Boceprevir e Telaprevir: na Rota da Cura da Hepatite C. J Port Gastrenterol. v.18 n.4 Lisboa jul. 2011

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