quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Do lixo à energia limpa

O constante aumento populacional vem sendo acompanhado de impactos ambientais negativos. A produção de resíduos pelo consumo exacerbado é em grande parte responsável por essas alterações no meio ambiente. Os resíduos sólidos têm sido um grande problema para a administração pública. A gestão e a disposição inadequada destes causam graves impactos socioambientais, tais como a contaminação de corpos d’água, enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças, além da poluição visual, mau cheiro e contaminação do ambiente. Só em 2010, o Brasil produziu cerca de 61 milhões de toneladas de lixo e, em mais da metade dos municípios do país, os detritos são simplesmente despejados e esquecidos nos aterros sanitários, sem qualquer tipo de tratamento. O lixo é um material indesejável, porém sua produção é inevitável. Logo, torna-se necessário uma gestão de reaproveitamento máximo de todos esses materiais descartados diariamente.

Enquanto países desenvolvidos gastam cerca de 200 bilhões de dólares por ano com a eliminação de seus resíduos, o Brasil destina apenas 5 bilhões de dólares. Segundo especialistas, se o lixo tivesse destinação adequada, pelo menos 10% de nossa energia poderia ter como fonte o biogás, constituído basicamente por metano e dióxido de carbono liberado pelos detritos. Além de excelente solução ambiental, o tratamento correto dos detritos ajudaria a economia de forma significativa. Atento a esse problema, e com vistas à preservação ambiental, teve início em fevereiro de 2012, na cidade de Assis, estado de São Paulo, o projeto “Energia Orgânica. Menos lixo, mais luz”, parceria firmada entre Prefeitura do município, Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (COOCASSIS) e Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). 

Com o objetivo de agregar valor à matéria orgânica não aproveitada, está sendo construído, na Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis, um biodigestor anaeróbio. A matéria orgânica proveniente de grandes geradores, tais como restaurantes, serão reaproveitadas servindo para alimentar o biodigestor, um aparato tecnológico o qual possibilita transformar o lixo orgânico em biogás e biofertilizante. 

O Biodigestor é um reservatório tubular de 50 metros de comprimento, feito de uma geomembrana de polietileno extremamente resistente. O lixo orgânico ali depositado é triturado e misturado com água, para então fluir lentamente da extremidade de entrada até a de saída do biodigestor enquanto sofre a ação de bactérias anaeróbias, as quais vão produzir o biogás. O aparelho será alimentado com cerca de 500Kg de resíduos orgânicos por dia, somando, assim, aproximadamente 15 toneladas de lixo orgânico por mês, que deixarão de ser inapropriadamente descartados e terão utilidade. Durante o processo, o material orgânico é convertido em gás metano e o resíduo sólido que sobra no biodigestor é um produto final altamente vantajoso se comparado a fertilizantes químicos, chamado biofertilizante. Estima-se que do lixo orgânico introduzido no biodigestor, 20% sejam convertidos em biogás e os 80% restante sejam transformados em biofertilizante.  

O biogás é inflamável e, por isso, pode ser aproveitado como biocombustível, movimentando motores, gerando energia elétrica ou aquecendo casas e granjas nos meses de frio. Neste caso será convertido em energia elétrica através de um gerador, sendo essa energia usada na própria cooperativa. A quantidade de energia gerada será em torno de 25% da utilizada por mês, o que levará a uma redução de cerca de mil reais nos gastos, aumentando, dessa maneira, a renda dos cooperados. 

O biofertilizante, após ser analisado, poderá ser comercializado com produtores rurais da região, sendo todo o lucro convertido em renda dos cooperados. O biofertilizante é um adubo orgânico natural que apresenta inúmeras vantagens quando comparado com adubos químicos, pois pode ser produzido através de resíduos e tem caráter de remediação dos solos degradados, apresentando cerca de 85% de matéria orgânica, 1,8% de nitrogênio, 1,6% de fósforo e 1% de potássio. “Acreditamos que a conversão de parte do lixo orgânico produzido no município em biofertilizante e biogás permitirá ampliar e fortalecer as ações da cooperativa em prol do desenvolvimento sustentável, trazendo benefícios a toda a comunidade assisense”, afirmam os idealizadores do projeto. 

Hoje o biodigestor está em processo final de construção e tem previsão de entrar em funcionamento até dezembro de 2013. Os cooperados da COOCASSIS entendem que o projeto deverá trazer novas oportunidades, além de uma maior visibilidade e valorização do próprio trabalho. Além de fornecer biogás e biofertilizante, o uso de biodigestor proporciona um menor impacto ambiental e uma cidade mais limpa para todos.

Andrômeda Oliveira - Enactus Unesp Assis

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