quinta-feira, 14 de março de 2013

Diário de um Engenheiro: Efeito do tolueno e ruído na perda auditiva ocupacional


O ruído é regulamentado como um conjunto de sons, que são capazes de adquirir um efeito desagradável e/ou intolerável, devido aos incômodos, à fadiga, à perturbação e não à dor que pode ocasionar.

A exposição ao ruído em altos níveis é considerada a principal causa, que pode ser evitada, de perda auditiva permanente. A perda na audição ocorre lenta e gradualmente ao longo dos anos, sendo que a exposição diária não apresenta consequências claras até que a audição já esteja comprometida.

Atualmente, são inúmeros os fatores que mais contribuem para a elevação dos níveis de ruído no cotidiano como, por exemplo, o aumento dos aglomerados urbanos, das deslocações, da aceleração do ritmo de vida, do desenvolvimento de hábitos de convívio noturno em espaços públicos, mas também o aumento do desenvolvimento da utilização de estruturas tecnológicas nas diversas situações da vida social (transportes, equipamentos das superfícies comerciais, equipamentos industriais, equipamentos domésticos).

Levando em consideração os fatores acima mencionados, também não podem passar despercebidas as exigências atuais da atividade profissional e produtiva dos indivíduos. Atividade produtiva esta, que se desenvolve nas fábricas, nos estabelecimentos comerciais e nos escritórios, nas atividades agrícolas e nas construções e que representam um fator, entre outros, de destaque de exposição ao ruído por força da elevada concentração de estruturas tecnológicas (máquinas, ferramentas e materiais manipulados) em espaços confinados (fábricas, locais de obras, etc.) e onde se localizam por tempo considerável diariamente diversos trabalhadores.

O comprometimento da saúde auditiva foi considerado por anos como a causa exclusiva dos ruídos. Pesquisas recentes consideram que o comprometimento da audição está associado à ação e exposição a outros agentes, como produtos químicos, e sua possível interação com os ruídos.

Existem alguns estudos que trouxeram evidências de que os produtos químicos podem levar à perda auditiva sem a presença do ruído, sendo conhecidas como ototóxicas.  Esse termo se refere a danos causados por um tóxico, especificamente, ao nível do epitélio sensorial do labirinto e do nervo auditivo, ou seja, um dano no interior do osso temporal. A interação entre o ruído e os produtos químicos pode conduzir a uma perda auditiva de maior gravidade do que a perda auditiva resultante da exposição isolada ao ruído ou ao produto químico. Ou seja, pode existir sinergia entre estes dois agentes.

Dentre os agentes químicos que podem comprometer a audição temos os solventes, metais, asfixiantes e agrotóxicos organofosforados. Para este estudo levou-se em consideração o tolueno, que é formado pela substituição de um átomo de hidrogênio por um radical metil, que é produzido a partir do refinamento do petróleo e encontrado em colas, gasolinas, solventes, agentes de limpeza, óleos, perfumes, entre outros produtos.

A exposição ao tolueno pode ser aguda ou crônica. A exposição aguda é sobre tudo devida à inalação de colas ou vapores de solventes, também se pode verificar de forma mais acentuada em indivíduos obesos, visto que o tolueno tem alta lipossolubilidade, armazenando-se em maior escala no tecido adiposo.

Em alguns estudos efetuados com animais, ratos, esses foram expostos, isoladamente ao tolueno, ao ruído e ao tolueno seguido por ruído. Os resultados apuraram uma diminuição da sensibilidade auditiva, particularmente em altas frequências. No entanto, a alteração encontrada no grupo exposto aos dois agentes foi maior do que a soma dos efeitos ocorridos nas exposições isoladas. Pela ABR (Auditory Brainstem Response), concluiu-se que havia dano coclear, pois os limiares auditivos foram, altamente, danificados enquanto a latência e o intervalo estavam apenas levemente afetados. No caso da exposição combinada inversa (ruído seguido por tolueno), a perda auditiva encontrada era maior do que a obtida isoladamente, mas não excedia a soma. Suspeita-se que o tolueno cause dano estrutural nos estereocílios e/ou membrana das células ciliadas cocleares, aumentando a vulnerabilidade ao ruído.

Rômulo Miiller Pereira
Graduando em Engenharia Biotecnológica

Bibliografia

SANTOS, A. L. B. Projeto de Investigação: Efeito do tolueno e ruído na génese de perda auditiva ocupacional. Mestrado Higiene e Segurança no Trabalho. Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa. Publicação em maio de 2012. Disponível em: < http://repositorio.ipl.pt/handle/10400.21/1712 >.

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