sábado, 5 de janeiro de 2013

Diário de um Engenheiro: Efeitos Tóxicos Causados pelo Chumbo em Diversos Meios de Trabalho


Os metais pesados podem danificar toda e qualquer atividade biológica. Existem inúmeros tipos de respostas biológicas a esses metais, mas o acesso variado aos componentes biológicos faz com que certos tipos de respostas predominem. Por exemplo, todos os sistemas enzimáticos são potencialmente suscetíveis aos metais pesados. Por outro lado, nos organismos vivos, o acesso dos metais pesados pode ser limitado pelas estruturas anatômicas; além disso, os sítios ligantes inertes podem competir pelo íon metálico. Por essas razões, frequentemente existem consideráveis diferenças de sensibilidade entre diferentes órgãos e tecidos, assim como na ação observada entre experimentos in vivo e in vitro, entre espécies e entre respostas típicas de envenenamento clínico.

Dentre os metais pesados, o chumbo é um dos mais utilizados na indústria. Seu uso diversificado é atribuído, principalmente a sua maleabilidade e resistência à corrosão. Sua toxicidade gera desde efeitos claros, ou clínicos, até efeitos sutis, ou bioquímicos. Estes últimos envolvem vários sistemas de órgãos e atividades bioquímicas.

A intoxicação por chumbo pode ocorre devido à contaminação ambiental, pela ingestão de alimentos e bebidas contaminadas e por partículas suspensas no ar.  Na atividade ocupacional, a via mais frequente de intoxicação é a inalatória, como consequência da contaminação do ambiente de trabalho. Calcula-se que mais de 4.000.000 de toneladas de Chumbo são consumidas anualmente em todo o mundo e que cerca de 1% de todos os trabalhadores estejam expostos ao chumbo.

As principais fontes de exposição ocupacional são:
 - Mineração, fundição e refinamento de chumbo
- Fabricação de acumuladores elétricos chumbo/ácido            
- Fabricação de tintas, corantes, vernizes e esmaltes
- Fabricação de cerâmicas
- Fabricação de armas de fogo e munições
- Indústria química
- Soldagens

Absorção
A inalação de Chumbo pode ocorrer na forma de vapores (compostos orgânicos), fumos (PbO) ou poeiras. As partículas pequenas atingem os alvéolos e podem ser absorvidas ou fagocitadas e então removidas até o epitélio ciliado, de onde alcançam a faringe sendo expectoradas ou deglutidas. A absorção do Chumbo no epitélio alveolar é rápida e, geralmente, cerca de 50% das partículas retidas em uma região são absorvidas. A absorção cutânea dos compostos inorgânicos de Chumbo é pequena, ocorre apenas no caso da pele estar lesada. Por outro lado, os compostos orgânicos, por serem lipossolúveis, podem ser absorvidos através da pele intacta. No caso da introdução pela via oral, a absorção é pequena e ocorre na mucosa intestinal (intestino delgado), sendo que a quantidade absorvida varia com a idade, sexo, dieta e tipo de composto ingerido.

Distribuição
A concentração de chumbo no sangue, denominado plumbemia, é função da absorção, armazenamento e excreção do metal no organismo. Assim plumbemia é igual ao total de Chumbo absorvido menos o total de Chumbo armazenado e excretado. O chumbo segue o movimento do cálcio no organismo, depositando-se nos ossos como fosfato de chumbo, sendo que até 94% do Chumbo absorvido pode ser armazenados nesse local. A concentração do Chumbo nos ossos varia de acordo com a idade e o tipo de osso. Alguns autores afirmam, ainda, que o sexo também poderá influenciar na porcentagem de Chumbo armazenado nos ossos. A volta do Chumbo ósseo para a corrente circulatória pode ser desencadeado por alguns fatores tais como a atividade osteoclástica, osteolítica, a acidose e a troca iônica. Em relação à troca iônica é importante ressaltar o íntimo relacionamento Ca-Pb. Geralmente, todo fator que auxilia na fixação ou liberação do Ca2+ dos ossos, exercerá igual papel em relação ao Chumbo.

Biotranformação e Excreção
Somente os compostos orgânicos de Chumbo sofrem biotransformação. O chumbo tetraetila e tetrametila são desalquilados parcialmente no fígado, formando, principalmente o chumbo trialquilado. Atribui-se à estes metabólitos trialquilados as propriedades tóxicas de seus precursores (mecanismo de ativação). Sabe-se que o chumbo tetrametila é menos tóxico do que o tetraetila, o que poderia ser explicado pela menor velocidade de biotransformação do primeiro composto.  Após ser biotransformado, o chumbo é excretado pelo organismo de duas maneiras, excreção urinaria e pelas fezes. Na excreção urinaria, são excretados cerca de 75% do Chumbo absorvido. Neste tipo de excreção os mecanismos são a filtração glomerular e a secreção tubular ativa. Na excreção pelas fezes, será eliminado o Chumbo que foi ingerido e não absorvido no TGI. . Pode ocorrer também a excreção fecal dos compostos que, após terem sido absorvidos, sofrem secreção biliar. É o chamado ciclo entero-hepático do metal.

Danos causados pelo chumbo
Efeitos gastrintestinais: A manifestação mais precoce e bastante incômoda é a cólica saturnina, que se caracteriza por espasmos intestinais que provocam dor abdominal intensa. Os músculos abdominais tornam-se rígidos, ocorrendo hipersensibilidade acentuada na região umbilical, febre e palidez.

Efeitos neuromusculares: O chumbo promove desmielinização e degeneração axonal, prejudicando as funções psicomotoras e neuromusculares. Provoca ainda alterações do metabolismo de alguns neurotransmissores, como por exemplo, da acetilcolina e das catecolaminas.

Efeitos neurológicos: A encefalopatia pelo chumbo ou saturnina, representa várias doenças que afetam o cérebro. É considerada a manifestação mais grave da intoxicação pelo chumbo, sendo mais comum em crianças. Nestas, a exposição ao metal resulta, algumas vezes, em nítida deterioração mental progressiva. O índice de mortalidade em pacientes com comprometimento cerebral é de cerca de 25%.

Efeitos no sistema hematopoético: O sistema hematopoético é o responsável pela formação do sangue, a ação do chumbo sobre este sistema inibe a eritropoese (formação de hemácias), provocando anemias.

Efeitos cardiovasculares: Os efeitos sobre o sistema cardiovascular incluem uma síndrome de miocardite crônica, que provoca alterações no eletrocardiograma, hipotonia ou hipertonia (distúrbios na inervação/regulação dos vasos sanguíneos) e produz ainda um quadro de hipertensão.

Efeitos renais: A toxicidade renal pode manifestar-se por distúrbio reversível dos túbulos renais e nefropatia intersticial irreversível.

Efeitos hepáticos: Ocorre o desenvolvimento de uma síndrome que interfere nos processos de biotransformação, com redução na concentração hepática do citocromo P450. Podendo ocorrer ainda o desenvolvimento de hepatite tóxica. Essas situações, no entanto, somente são observadas em intoxicações severas. 



Renan Peixoto dos Santos

Graduando do curso de Engenharia Biotecnológica 


Referências bibliográficas

LEITE, E.M.A. Exposição Ocupacional ao Chumbo e seus compostos. Universidade Federal de Minas Gerais.
MOREIRA, F.R.; MOREIRA, J.C. Os efeitos do chumbo sobre o organismo humano e seu significado para a saúde. Rev Panam Salud Publica. 2004;15(2):119–29.
SCHIFER, T.S.; JUNIOR, S.B.; MONTANO, M.A.E. Aspectos toxicológicos do chumbo. Infarma. v.17, nº 5/6, 2005.

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